Neymar S/A:
a engrenagem por trás do maior jogador de futebol do Brasil
Do UOL, em São Paulo
12/06/2018 04h00
15h22 do dia 23 de outubro de 2014. Pelo Whatsapp, a três dias do segundo turno das eleições presidenciais, duas pessoas trocam rascunhos do discurso de Neymar em apoio ao candidato Aécio Neves, do PSDB. O jogador não participa da discussão.
“A escolha do seu candidato não pode ser uma batalha campal, ou entre o bem e o mal, e sim ter a certeza que, independente do candidato que você apoia, após a vitória na urna seja a vitória da democracia. Eu vou apoiar o candidato Aécio Neves pela proposta de mudança que quer fazer no Brasil, mas tenham certeza que, independente do resultado de domingo, continuarei à disposição do meu país e do presidente eleito pelo povo”, diz a versão final, enviada por Neymar da Silva Santos, o Neymar pai.
Às 22h do mesmo dia, o camisa 10 da seleção brasileira aparece declamando exatamente o mesmo texto em um vídeo divulgado em suas redes sociais e na campanha do próprio Aécio Neves.
Meses antes, em março, Neymar havia sido convidado para integrar uma campanha do governo Dilma Rousseff com o objetivo de tranquilizar a população quanto ao sucesso da Copa do Mundo de 2014. Quem respondeu foi “seo Neymar”, como o pai dele é ocasionalmente chamado pelos funcionários.
“Pode dizer não! Com toda educação”.
O alinhamento do posicionamento político de Neymar Jr. é uma das várias frentes do cotidiano da NR Sports e da N&N Consultoria, empresas sediadas em Santos e que compõem o grupo responsável por gerir todos os aspectos extracampo da imagem e carreira do jogador. No malabarismo estão relações com clubes, patrocinadores, seleção brasileira e imprensa, com palavra final sempre de Neymar pai, sócio, fundador e presidente de toda a estrutura.
O UOL Esporte foi fundo na engrenagem da “Neymar S/A”, em cerca de três meses de acompanhamento intenso da estrutura, com acesso a centenas de e-mails, diálogos internos e contratos, além de conversas com empresários ligados ao grupo, pessoas próximas e funcionários, sempre em condição de anonimato. A operação é similar à de uma empresa de médio porte, segundo a classificação padrão do BNDES. Em um período de 12 meses entre 2014 e 2015, por exemplo, o valor movimentado atingiu R$ 62,4 milhões.
A ideia da “Neymar S/A” surgiu quase por acaso, como uma estratégia do Santos para segurar seu craque no fim de 2010, concretizou-se em 2011 e transformou-se em uma estrutura respeitável. Ao longo de duras negociações, relações com a Globo e a imprensa em geral, atritos com o Barcelona e até a escolha de posicionamentos do próprio Neymar Jr., o jogador em si quase nunca se manifesta. Hoje, tudo funciona praticamente 24 horas por dia para que o atleta tenha apenas um foco: jogar futebol.
Executivos do mercado, caráter familiar e “parças” em 2º plano
O modelo atual da NR Sports e da N&N Consultoria surgiu da dificuldade do Santos diante dos salários milionários oferecidos por clubes do Velho Continente. Para poder competir, o clube criou um “plano de carreira” para Neymar, que previa de aulas de inglês a uma consultoria comercial capaz de captar no mercado patrocínios que compensassem financeiramente sua permanência no Brasil.
A chave para essa conta fechar foi uma divisão nos direitos de imagem do jogador, que passaria a ganhar um percentual dos negócios que ele trouxesse ao Santos. A partir de 2011, as empresas ligadas aos pais do jogador passaram a ficar com a maior parte das receitas a ele atreladas – ao clube, coube 30%, valor que depois foi reduzido para 10% e, subsequentemente, a zero.
O mercado reagiu bem ao modelo, empolgado com o que Neymar produzia em campo. Em 2014, quando ele já era campeão da Libertadores, astro do Barcelona e principal estrela da seleção em ano de Copa, as empresas faziam a gestão de 60 contratos, número que só aumentou desde então. Liderando a operação, Neymar pai buscou em parceiros, no mercado e até em “inimigos” os profissionais-chave para cobrir as várias facetas da carreira do filho.
Do Banco Santander veio o economista Altamiro Bezerra, responsável por toda a parte financeira e idealizador da polêmica operação de venda para o Barcelona; do Santos, o homem forte da comunicação e do marketing Eduardo Musa, braço direito de Ney pai até o fim de 2015, quando se afastou após divergências sobre sua remuneração. Do grupo DIS, que hoje briga na Justiça espanhola para receber uma fatia maior do valor pago pelo Barça, o advogado Gustavo Xisto. Abaixo deles, outros nomes contratados do mercado compõem a estrutura sediada em Santos, em um prédio de quatro andares, com a fachada coberta de cima a baixo por uma imagem de Neymar em ação – a foto é mudada periodicamente.
Por trás dos profissionais e das áreas técnicas, no entanto, a empresa mantém o caráter familiar. Os “parças” do craque, em menor escala, têm seu papel na estrutura, que vai além de fazer companhia e oferecer entretenimento ao amigo. Alguns deles cursam universidades e adquirem experiência profissional trabalhando nas empresas. Gilmar Lima, o Gil Cebola, por exemplo, é parte da gestão da carreira e participa de contatos e negociações com patrocinadores.
A lógica vai além do “drible” que jogadores de futebol costumam aplicar na Receita Federal, recebendo parte do salário como pessoa jurídica para pagar menos impostos. As empresas têm como sócia, além do pai, a mãe do jogador, Nadine Santos – o filho nunca pertenceu ao quadro. Elas compraram os direitos de imagem de Neymar Jr., que recebe aproximadamente R$ 10 milhões anuais como remuneração. Toda a renda dos contratos de patrocínios e outras atividades comerciais relacionadas ao jogador entram diretamente no fluxo de caixa da NR Sports e da N&N Consultoria.
A estruturação do negócio entrou no radar da Receita Federal, que entrou com ação alegando que os valores de publicidade que entravam nas empresas deveriam, na verdade, ser tributados como salários de Neymar Jr. O pai sempre defendeu a independência de suas atividades em relação ao craque e disse, em inúmeras ocasiões, que apenas recebe a remuneração devida pelo trabalho na gestão da carreira do filho. A tese tem sido aceita pela Justiça e a N&N Consultoria e a NR Sports já obtiveram vitórias em duas instâncias no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão da receita que julga o caso.
Em 2012, as empresas ganharam um braço social, o Instituto Neymar Jr., inaugurado em 2014. O projeto fica no Jardim Glória, na Praia Grande, onde Neymar passou a infância, e é focado especificamente em crianças da região. O instituto oferece suporte educacional, atividades culturais e esportivas e saúde básica a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, além de atividades para os pais e responsáveis, atendendo atualmente cerca de 10 mil pessoas.
“Um bom FDP para eles. Para mim e os meus clientes, o melhor”
Neymar pai é um negociador duro, que mantém postura firme com clubes e patrocinadores. “Um bom FDP para eles. Para mim e para os meus clientes, o melhor”. Foi como ele mesmo se definiu em 2014, em uma conversa informal, como reação a uma matéria que criticava o fato de a NR Sports ter recebido 40 milhões de euros na transferência de Neymar ao Barcelona no ano anterior.
Pela política da empresa, as negociações devem ser desenvolvidas com valores colocados sobre a mesa, para só então serem repassadas a Neymar pai, que aparece para o acerto final. Neste processo, o presidente não se envolve em minúcias de cada conversa e propostas acabam descartadas antes mesmo de chegar à sua mesa.
Os valores dos contratos comerciais variam muito de acordo com o país, a época em que foram firmados e a extensão do envolvimento de Neymar Jr. no acordo. Em junho de 2015, por exemplo, a NR Sports pediu a um grupo de três empresas do Qatar, incluindo a Qatar Airways, 3,5 milhões de euros por três diárias de fotos, três aparições em eventos e três entrevistas por ano – a contraproposta foi de 2,5 milhões de euros, e a ordem de Neymar pai foi para que a resposta fosse adiada. “Vamos jogar o jogo deles”.
A postura se estendia ao Barcelona, clube de Neymar até agosto de 2017, e à Nike, fornecedora de material esportivo exclusiva do atleta. Em 2015, a empresa norte-americana começou a comercializar produtos utilizando a imagem do brasileiro nas lojas oficiais do clube catalão, gerando atritos com a NR Sports, que não autorizou o uso. As conversas chegaram a esquentar, com as empresas ligadas ao jogador ameaçando “tomar as providências cabíveis”. O caso gerou intervenção de Neymar pai, que sugeriu como solução o pagamento de um valor por parte do Barcelona para liberar as vendas.
Internamente ele também é exigente. São comuns conversas e decisões tomadas depois das 22h e antes das 6h. “Seo Neymar” dá broncas e se irrita com falhas no processo, como quando precisa entrar em negociações e tomar decisões antes do estágio final. Ao mesmo tempo, dezenas de conversas mostram um clima de intimidade, com xingamentos em tom de brincadeira. Em um comunicado bem-humorado, por exemplo, Ney pai “vetou” em 2014 o uso de emojis nas comunicações internas da empresa.
“Parem de mandar carinhas ou algo parecido nas mensagens. Primeiro, eu não enxergo. Segundo, eu não entendo. Se quiserem continuar mandando, me mandem em tamanho gigante e com legenda”, pedia o “comunicado”, repassado à equipe. Os emojis gigantes e legendados, obviamente, nunca chegaram a virar praxe na comunicação interna.
Boa parte da equipe montada com a fundação das empresas em 2011 se mantém até hoje, sempre leal à família Neymar. A “Neymar S/A” também procura ter atenção com torcedores e não é incomum que o pai do craque leia pessoalmente e-mails e pedidos de fãs. Esporadicamente, chega a enviar camisas e procura espaço na agenda para atender, na medida do possível, algumas solicitações.
Neymar é o pai. O craque é o “Juninho”
A entrega completa da gestão de sua carreira só funciona graças a uma condição: a extrema confiança entre pai e filho. Neymar pai vive a carreira do filho desde a infância, dedica-se integralmente a isso e funciona como mentor e conselheiro. “Júnior” tem extremo respeito pela palavra do pai, e ambos se defendem publicamente sempre que interpretam que o outro está sendo de alguma forma atacado.
Neymar da Silva Santos deixou o trabalho como funcionário da CET, em Santos, em 2009, para se dedicar exclusivamente à carreira do filho, desde sempre visto como uma “empresa”. Ele mesmo um ex-jogador, o pai percebeu que com suporte, disciplina e cobrança o talento do herdeiro poderia trazer um futuro diferente para a família.
“Ele é a nossa empresa. Eu sou presidente junto com minha esposa, e tem a minha filha que ajuda. É difícil. Você fala: ‘Caramba, estou tratando meu filho como negócio’. Claro. O Neymar até certo ponto é meu filho, mas a partir do momento em que ele sai de casa, é meu negócio. É nosso trabalho”, disse Neymar pai em maio de 2011, quatro meses antes da abertura de suas empresas e do início da enorme operação que cuida da carreira de Neymar.
Na infância, foi do pai a determinação para que o garoto deixasse as “peladas” na praia e se dedicasse integralmente aos treinamentos e jogos competitivos no campo e no futebol de salão. Ainda nas quadras, Ney pai insistia para que o filho utilizasse o pé esquerdo nas finalizações, mesmo que, naquela época, cortar para o pé direito ainda trouxesse resultados melhores.
Hoje, ambos fazem questão de tornar pública a relação de extrema confiança, principalmente nos momentos de crise. Com a deflagração de investigações na Justiça espanhola sobre a transferência de Neymar para o Barcelona em 2013, e processos da Receita Federal questionando as atividades da NR Sports e da N&N Consultoria, o jogador saiu em defesa do pai.
Em outubro de 2015, em investigação da Receita Federal, a NR Sports recebeu uma autuação por suspeita de compra irregular de um veículo da Porsche. Afetado, em Barcelona, Neymar tomou uma atitude de resposta às críticas: sentou em cima de uma Ferrari na garagem de casa e pediu para tirarem uma foto. “Obrigado Deus por me dar saúde e com o fruto do meu trabalho poder realizar mais um sonho de criança”, postou ele em seu Instagram. A atitude contrariou orientação de assessores, que esperavam uma postura mais “comedida”, mas agradou o pai.
Em contrapartida, Neymar pai serve de escudo constante para o filho: foi ele quem apareceu na sacada para explicar a uma horda de torcedores do Barcelona a decisão de assinar com o Paris Saint-Germain no ano passado. Este ano, mais uma vez, o pai do jogador veio a público esclarecer se o tratamento para a fratura sofrida no pé direito por Neymar seria cirúrgico ou não.
Apesar da proximidade, separar as figuras é uma preocupação constante. Neymar é o pai; o filho, Neymar Jr. Em 2015, as empresas que gerem a carreira do atleta pediram expressamente à CBF para que utilizasse o nome “Neymar Jr.”, sem excluir o “Jr.”, em todas as comunicações referentes a ele em site, redes sociais e demais mídias.
Controle sobre a imprensa e a relação com a Globo
É 18 de julho de 2014, dez dias depois do 7 a 1, e o estafe de Neymar está irritado. O jogador tinha topado dar entrevista ao Fantástico com uma condição: sem perguntas sobre a goleada. Existia a preocupação de não colocar o craque como “salvador da pátria”, ou arriscar isentá-lo de responsabilidade sobre a campanha, incomodando os companheiros. As perguntas não só foram feitas como apareceram em uma chamada para o programa, que iria ao ar dois dias depois.
Neymar pai e seus funcionários estão acostumados com o embate com a imprensa – no ambiente da “Neymar S/A”, Júnior, como é chamado o jogador, é visto como alvo de uma perseguição implacável por parte de veículos do Brasil e do exterior. O estafe não compreende como o maior atleta brasileiro da atualidade, quase sempre incontestável em sua produção dentro de campo, tem sua vida devassada em vez de receber tratamento de ídolo e herói. A Globo, neste contexto, deveria ser exceção. Na época da citada entrevista eles mantinham com a emissora um contrato de exclusividade que tinha como um dos objetivos, nas entrelinhas, evitar casos assim.
“Como nos foi garantido, a entrevista seria gravada e, caso algum assunto, pergunta ou resposta não fosse considerada adequada, poderíamos solicitar que fosse excluída”, diz o rascunho de um e-mail discutido entre Neymar pai, Eduardo Musa e um terceiro assessor, e que acabaria sendo enviado à cúpula da Rede Globo.
Meses antes, em uma matéria sobre negócios geridos pelos “parças” de Neymar, a reportagem da Globo enviou ao estafe do jogador o texto final. Ele foi encaminhado diretamente a Neymar pai para que ele decidisse se gostaria de acrescentar ou tirar algo antes da publicação.
A interferência editorial não é isolada e os responsáveis pela gestão da imagem de Neymar Jr. vivem uma contradição. De um lado, o jogador que é uma potência de mídia, presença constante na publicidade e usuário contumaz de redes sociais, expondo vários aspectos de sua personalidade, do gosto pelo pôquer às relações brincalhonas com os amigos. Do outro, uma equipe que tenta restringir sua presença na imprensa ao que acontece dentro de campo, encarando com hostilidade o inevitável interesse de veículos brasileiros e estrangeiros pelo que acontece no dia a dia de uma das maiores personalidades do esporte mundial.
Em qualquer participação de Neymar na mídia, há preocupação constante com quais serão os questionamentos feitos. Filtros prévios em perguntas, assuntos vetados e situações indesejáveis são fatos comuns em entrevistas e aparições.
Desde que sofreu uma fratura no quinto metatarso do pé direito, no fim de fevereiro deste ano, o estafe do jogador escolheu a dedo seus pronunciamentos públicos. O camisa 10 da seleção brasileira apareceu nos programas Altas Horas e Caldeirão do Huck e cedeu poucas exclusivas. Conversou com Desimpedidos e o ex-jogador Zico, em seus respectivos canais de Youtube; o ex-jogador Alex, em um programa para a ESPN; o Jornal Nacional, para o perfil dos convocados; e a revista VIP, que fez uma edição com ele e Tite na capa. Na única entrevista coletiva, no evento de um patrocinador, as perguntas foram selecionadas previamente. Em nenhum desses casos teve de responder a questões sobre a negociação com o Real Madrid, tema que o tem incomodado às vésperas da Copa do Mundo.
Tudo passa pela ideia de controle da narrativa que a “Neymar S/A” tenta exercer sobre seu principal ativo, sempre com a preocupação de que o noticiário se limite ao campo de jogo. A namorada, o filho, imbróglios judiciais, possíveis transferências e até a logística quanto ao tratamento da lesão são tratados como temas inconvenientes para um jogador de futebol.
Em 2016, as duras críticas ao jogador na fase inicial das Olímpiadas, principalmente de Walter Casagrande e Galvão Bueno, abalaram a relação com a Globo. O acordo entre a “Neymar S/A” e a emissora, que viria a ser revelado pela Folha no início de 2018, acabou não sendo renovado, ainda que as partes tenham se reaproximado aos poucos desde então.
O funcionamento da engrenagem que gere a carreira de Neymar, entretanto, não mudou, com o jogador sempre à margem de questionamentos que extrapolem, minimamente, as quatro linhas. Em abril deste ano, a Globo montou uma operação para tê-lo no Altas Horas, com convidados que pertencem ao seu círculo de amizades e até dividem a mesma assessoria de imprensa. Ao contrário do que costuma ocorrer com convidados, o craque não foi exposto a perguntas da plateia.
A Globo, por meio do seu departamento de comunicação, não quis comentar detalhes da relação, afirmando apenas que já não existe mais qualquer contrato com o estafe de Neymar. “O contrato citado não existe mais. Firmado em 2014, referia-se a participações especiais de Neymar em programas e em campanhas da emissora, bem como ao uso de conteúdos audiovisuais produzidos pelo jogador”, disse o comunicado enviado à reportagem.
Com veículos estrangeiros a relação é menos profunda, mas segue linha parecida. Ao solicitar entrevista no fim de 2015, um repórter do jornal catalão Mundo Deportivo já envia a pergunta acompanhada de uma resposta, pedindo apenas o “ok” do estafe do jogador. Há também, em documentos obtidos pela reportagem, menção a entrevistas pagas em 2015, com o recebimento de valores entre R$ 120 mil e R$ 200 mil para que Neymar falasse com uma televisão japonesa, em contato intermediado por um funcionário da Rede Bandeirantes. Uma nova aparição do craque por 20 minutos é negociada por R$ 70 mil.
“Neymar S/A” diversifica parceiros e sobrevive a derrocadas
A marca de Neymar cresceu muito desde que o atacante se firmou como um dos principais atletas do elenco profissional do Santos, em 2010. As atividades da NR Sports acompanharam a trajetória e atingiram escala mundial, com braços em mercados na América do Norte, Ásia e Europa. Na busca por contratos ao redor mundo, o pai do jogador conta com uma lista extensa de intermediários e agentes autorizados a captar negócios.
Um deles é Pini Zahavi, empresário isralense que foi fundamental na ida de Neymar para o PSG, da França. Zahavi se aproximou de Neymar pai já em 2012, desenvolvendo amizade e se tornando uma peça importante na intermediação de acordos no mercado asiático. O Grupo Doyen é outro dos parceiros e conduziu oficialmente o acordo entre a NR Sports e a Konami, desenvolvedora do jogo Pro Evolution Soccer, para a cessão da imagem de Neymar Jr.
Durante seu auge comercial, a 9ine, de Ronaldo, foi uma parceira importante na captação de patrocínios e busca por parcerias. A empresa do Fenômeno perdeu terreno e encerrou suas atividades em 2016, mas isso em nada afetou os negócios de Neymar, que sobrevivem e crescem sozinhos. Hoje, o ex-camisa 9 da seleção brasileira comanda uma nova empresa, a Octagon, e conta com a gestão de carreira de Gabriel Jesus, colega de seleção e amigo de Neymar Jr.
A IMX, de Eike Batista, é outra que chegou a manter contatos e buscar negócios para a NR Sports e a NN Consultoria. As empresas de Neymar pai sobreviveram sem nenhum percalço à derrocada de parceiros e seguem contando com uma ampla rede de agências aliadas. O empresário Eduardo Maluf, por exemplo, que levou o treinador Fábio Carille ao Al-Wehda, da Árabia Saudita, é um deles.
“Seria muito difícil sem isso tudo. Ficou muito grande só para mim. Então, temos esses profissionais que nos ajudam a filtrar as coisas, para chegar tudo “mastigado”. Tenho de deixá-lo livre, focado dentro de campo”, disse Neymar pai, em 2013, à Globo.
Hoje, a estrutura das empresas não funciona só para Neymar. Fazem parte da lista de clientes o meia Lucas Lima, do Palmeiras; o jovem atacante Arthur Gomes, do Santos; e o campeão olímpico do salto com vara, Thiago Braz. A ascensão transformou o pai de Neymar em empresário respeitado na Europa e no Brasil, tratado sempre como alguém capaz de oferecer uma “oportunidade de negócio” a qualquer momento. A importância e o alcance, então, justificariam sempre o melhor tratamento.
No Barcelona ele sempre teve tapete vermelho – mesmo antes de concretizar a transferência em 2013, tinha acompanhamento constante do diretor Raul Sanllehí. Em maio daquele ano, recebeu carta do então presidente do Barça, Sandro Rosell, prometendo que investiria ao menos 100 milhões de euros nos primeiros cinco anos de contrato. No clube catalão, sempre teve seus desejos ouvidos com atenção, além de tratamento íntimo.
Isso se repete no PSG – em novembro do ano passado, por exemplo, o clube francês retirou um espaço de camarote de um patrocinador para repassar ao estafe de Neymar. Ney pai também conta com a simpatia de Florentino Perez, presidente do Real Madrid que sonha em contar com os serviços de seu filho.
No ano passado, a seleção brasileira estava reunida no CT do Palmeiras para o jogo contra o Chile, pelas Eliminatórias, quando Neymar pai e sua entourage fizeram uma visita ao clube. Enquanto as estrelas de Tite treinavam no gramado sob os olhares da imprensa, o presidente da “Neymar S/A” teve direito a entrada exclusiva, longe dos olhos da torcida, e acompanhamento de perto do diretor Alexandre Mattos e do presidente Mauricio Galiotte. Não por acaso, dias depois deste encontro as partes bateram o martelo sobre a ida de Lucas Lima ao Palmeiras.
Seleção brasileira é o limite intocável para os negócios
O limite da postura agressiva de negociações e expansão da marca Neymar é a seleção brasileira, que inspira respeito total. Por determinação do pai do jogador, todas as restrições e orientações dadas pela CBF durante os períodos em que Neymar está com a equipe são seguidas à risca.
Em 2015, no comando da seleção, Dunga baniu quaisquer atividades não relacionadas ao time nas concentrações. A ordem de Neymar pai aos seus funcionários foi de acatar e não realizar, em hipótese alguma, qualquer pedido de exceção à comissão técnica ou à diretoria da CBF.
Com a comissão de Tite, o relacionam
ento também é bom. O comandante da seleção brasileira costuma liberar a presença de amigos e familiares na concentração e considera benéfica a proximidade de Neymar com o pai e família – destaca com frequência que o craque tem “cabeça no lugar’ e boa criação.
Em Liverpool, durante a preparação da seleção para a Copa do Mundo da Rússia, Neymar pai circulava livremente pelo hotel, e até os amigos de Neymar Jr. tiveram acesso ao quarto do atacante.
Até pela relação franca, a postura do jogador e seu estafe segue sendo de respeito à seleção, com a decisão de não abordar nenhuma questão envolvendo o interesse do Real Madrid até o fim da Copa do Mundo. A ideia é que, durante a disputa do Mundial, o nome de Neymar só apareça relacionado às suas atuações dentro dos gramados.
O clube espanhol segue interessado no camisa 10 da seleção e pensa em alternativas para tirá-lo do PSG, chegando a pedir o auxílio de Ronaldo. Neymar, por sua vez, vê com bons olhos a mudança, embora não tenha intenção de forçar a situação com o PSG. Durante o Mundial, entretanto, o assunto deve ficar enterrado.
Durante o próximo mês, as engrenagens da “Neymar S/A” devem permanecer girando em silêncio, nos bastidores. A partir do dia 15 de julho, com ou sem a conquista do hexacampeonato, os motores voltarão a acelerar.
*Colaboraram Danilo Lavieri, Dassler Marques, Pedro Ivo Almeida